Há uns anos estaria provavelmente a queixar-me de
que o Natal é uma das grandes “empresas” responsáveis pelo consumismo excessivo
e o “mimosear” desnecessário que se é dado às crianças nesta época natalícia. Mas
agora com a crise, crise e mais crise, a coisa já está mais difícil – contudo tenho
a certeza que não faltaram por aí consumidores ávidos de bens materiais, que
supostamente trazem nos seus embrulhos exageradamente decorados – o chamado espírito
de Natal. É uma época de excessos de todas as maneiras possíveis e imaginárias,
como se o facto de ser Natal pudesse justificar os mesmos. Eu dou do género de
pessoa que gosta de dar sermões, mas neste caso acho que já estarão fartos de
ouvir que isto é uma época para dar graças por termos família e comida na mesa
para celebrar a noite de Natal.
Deixem-me então levar-vos a pensar noutra coisa: e
aqueles que nem sabem que é Natal? Estamos aqui nós, o “povinho português” a
queixar-se que não há dinheiro para comprar o bacalhau que mais fará as
prendinhas para os 50 membros da família; quando todos os dias milhões de
pessoas por todo o mundo dão graças apenas por estarem vivos. E que tal
pensarmos por um instante neste Natal? Temos este sentimento, um pouco egoísta,
de que com o mal dos outros podemos nós bem, mas não nos lembramos que talvez
até somos bastante afortunados. Não temos que olhar para cada esquina quando
caminhamos na rua – com medo de sermos esfaqueados; não temos caves em casa,
preparadas para serem usadas como trincheiras em caso de ataque inimigo e
podemos dormir com a mínima certeza de que amanhã vamos acordar.
Para mim esta época nunca fez muito sentido e da
há uns anos para cá tornou-se numa das alturas que mais me entristece. E não
estou aqui para dar lições de moral porque eu também me incluo no grupo de
pessoas que se queixam muito e têm muita sorte na vida. Mas esta época em
especial faz-me pensar no sentido da vida – se é que há algum sentido – e faz-me
pensar no conceito de família. Até agora o Natal nunca foi Natal para mim,
sempre achei que faltava qualquer coisa – e afinal tinha tudo, e como sempre só
nos apercebemos disso quando perdemos. Eu não queria brinquedos, nem roupa, nem
dinheiro – isso não me diz nada, apesar de ser um pouco consumista, admito, mas
tenho o meu limite. Não, eu queria um Natal como o das outras crianças, nunca
me senti integrada. Por isso o Natal para mim agora é só mais um dia como outro
qualquer.
Mas queria que vocês fizessem esta experiência
comigo – pensem nas pessoas que vivem na outra metade do mundo – na metade que
nem consegue imaginar a ceia da consoada porque nem sabe se terá comida para
hoje. E que podemos fazer? – dizeis vós. O que não falta aí são organizações de
solidariedade que trabalham pelo mundo fora. Mas eu não ia tão longe, a
realidade do 3º mundo está mais perto de nós a cada dia que passa – e há muita
gente a passar fome aqui em Portugal.
No outro dia vi uma publicidade que me tocou, de
tal forma que não consigo não pensar nisso constantemente – que dizia
basicamente que um valor de um café equivale a uma lata de atum. Pois é, tão
simples assim – e agora sempre que desejo um café penso não, vou guardar este
dinheiro e quando for ao supermercado vou dar uma lata de atum a alguém que tem
fome. Não é muito, mas é um começo, se todos ajudarmos com o que pudermos podemos dar a mão ao
próximo que nesta época faz o dobro do sentido, esta época que todo o mundo
sente a dificuldade da crise e da pobreza que lhes bate à porta.
Por isso este Natal em vez de comprarem aquela
camisola que não pode faltar no vosso armário, ou aquele jogo de consola que o
vosso filho não pode viver sem ou aqueles brincos que ficariam divinos nas
orelhas das vossas esposas – guardem esse dinheiro e ajudem alguém. Acreditem que
no fim do dia vão sentir-se muito mais satisfeitos do que se tivessem gasto o
dinheiro em mimos para vós mesmos. Não há nada mais satisfatório que ajudar
alguém, ser altruísta. E juntem a vossa família, não só no Natal, mas todos os
dias se for possível. Dêem valor ao que têm e não ao que desejam, porque amanhã
podem perder tudo e aí não há forma de voltar atrás. Neste Natal dêem graças
por estarem vivos e com saúde; e façam uma coisa boa por alguém. É uma ideia,
mas é assim que algo de grande começa – uma pequena ideia plantada na nossa
mente.
Desejo um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo a
todos vós, na medida do possível.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado :) todas as criticas são bem- vindas....