A sociedade do século XXI sofre
de uma quantidade absurda de enfermidades, e por vezes é-me penoso isolar uma
que consiga resumir os podres que germinam das entranhas da nossa ignorância. Os
anos e a convivência com estes espécimes tão complexos, permitem-me porém
sentir repulsa em me incluir no seu grupo - porque nem por um segundo me
imagino a sentir e a agir como eles.
Recentemente assisti a um
segmento mais “sério”, de um qualquer programa da manhã, que abordava o
alarmante aumento de idosos abandonados em hospitais. E mais uma vez corriam as
lágrimas pela minha face; ao ver os seus rostos embelezados pelas marcas que
contam as histórias de suas peculiares das suas vidas e os relatos de como tudo
terminou tão cruelmente porque os seus familiares não queriam o “incómodo” de
cuidar dos seus – e sinto-me tão pequenina num mundo de monstros gigantes, que
comentem estes crimes contra a comunidade. Baixo os braços perante a minha luta
de entender o porquê!
Como é que as crianças de outrora, que foram criadas no
colo quente e no conforto do amor de seus pais e/ou avôs, se esquecem
completamente das horas felizes que viveram apenas porque tinham um alguém que
o amou e ama mais do que alguém vai amar? Sim, esquecimento, é a única
justificação plausível – um vírus que afeta a memória ou um alzheimer seletivo
que lhes rouba a capacidade de compaixão pelas pessoas que lhe deram a vida. Não
vos vou maçar com as imensas incoerências e atrocidades que me deixam apavorada
com a ideia que um ser humano pode descansar sua cabeça na almofada sabendo que
uma parte de si está a definhar sozinha e triste num canto qualquer. Pois a mim
nunca me faltaria vontade e tempo para me certificar que fiz tudo para dar o conforto
e carinho a quem mo deu nos primórdios da minha insignificante existência.
Para além do mais, estes jovens de
olhos brilhantes são simplesmente adoráveis, seres belos que viveram coisas que
nunca me passariam pela cabeça – porque por vezes esquecemo-nos que um dia eles
foram jovens de tenra idade como nós, sem experiencia, cheios de vida e sonhos,
com receio mas vontade de viver tal como nós. Para mim é um prazer compartilhar
o sentimento que suas palavras tão calorosamente refletem – são vidas ligadas
com outras vidas, e vivências com as quais podemos nos relacionar e aprender.
Não entendo quem pode encontrar aqui um ponto negativo, mas isso sou eu.
Não sei se já o referi mas com
tantas qualidades que o meu ídolo possuía, torna-se complicado anotar o que
disse ou não disse; o meu avô, que era um jovem com muita experiência de vida,
mas de uma geração muito mais retrograda que a nossa; tinha uma capacidade de
aceitar todas as pessoas, por mais estranhas que fossem à sua natureza, e não
sabia o que significava julgar quem simplesmente possui uma visão diferente da
nossa. Até a mim que, para quem me conhece não é surpresa nenhuma, sou sempre
do contra; dá-me um gostinho especial a adrenalina de provar e argumentar os
meus pontos de vista, e demonstrar sempre a importância de respeitar a
subjetividade de cada um. E por isso sempre me foi fácil agir assim em todos os
aspetos da minha vida, porque tinha um grande exemplo do que significa ser um
ser humano verdadeiramente humano – que nunca poderei copiar mas que desejo
alcançar com o tempo. É plausível que essa seja a raiz da podridão que a
humanidade sofre, a falta de bons modelos que as crianças – os adultos de
amanhã – admirem e desejem seguir como exemplo. E agora seria o momento ideal para
tirar um instante e considerar esta minha ideia e refletir-mos sobre se somos
realmente o melhor que podemos ser, se queremos que os nossos filhos sigam os
nossos passos, para que no futuro possam olhar para nós e dizer: tenho orgulho em
ser a pessoa que sou porque assim mo ensinaste. Será que no futuro teremos um
conjunto de pessoas que queiram mesmo fazer o melhor pelos seus e pelos outros
e que não simplesmente o apregoem?
Apenas mais um degrau na longa escada que
deveríamos subir, para que todos nós enquanto sociedade, possamos também ser o
melhor que podemos ser.
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