Não é fantástico como assim que encontramos balanço espiritual todos os
nossos sentidos ficam muito mais apurados? Tenho-me encontrado a ouvir mais e a
falar menos, gosto do papel de observador, e as vantagens são imensas para o
meu desenvolvimento cultural… Sim, também inclui o uso de um vocabulário mais
rico e variado, e com um cheirinho de presunção que nunca matou ninguém. Para
além disso, encontro inspiração no dia-a-dia e dou comigo a pensar e a analisar
os ramos intrincados dos comportamentos e conversações triviais. É a volta ao
mundo terreno e ao mesmo tempo ao recanto do meu consciente - onde me enrolo
num manto de introspeção que me aquece a alma – são as pequenas coisas que me
fazem feliz.
E agora que já desenvolvi demasiado sobre coisas que só interessam à minha
pessoa vamos passar ao que me interessa. A querida Judite de Sousa estava hoje
num programa de tarde qualquer, a falar sobre um senhor (que infelizmente não
reconheci e por isso não o armazenei), e fez um curioso comentário: só as
grandes mentes possuem um intelectual musculado e por isso exigem e apreciam
uma discussão bem fundamentada (não são as palavras exatas mas a ideia era mais
ou menos esta). Isto fez-me pensar que afinal a Judite é um bocado presunçosa
(cheia de si mesma ou vaidosa) afinal de contas não é muito educado gabarmo-nos
das nossas qualidades intelectuais ou outras. Já não tinha uma grande impressão
da senhora e não melhorou definitivamente. Garanto-vos que conheço a minha
quota de idiotas convencidos que por usarem meia dúzia de palavras cultas e
decorarem dois factos interessantes sentem-se os senhores de toda a verdade!
Especialmente pseudoartistas (ego explosion). E depois disse a mim mesma: que
hipócrita!
Não sou uma mulher que passa o dia a aprazar-se de suas qualidades - até
porque me culpo muitas vezes por tanto falar dos meus defeitos. Mas é certo que
sinto uma grande satisfação quando alguém aprecia o meu trabalho ou
simplesmente congratula-me pelo vestido que trajo – não somos todos um
bocadinho hipócritas quando criticamos alguém por dizer a verdade quando no
fundo esperamos que alguém o faça por nós? Hipócritas e falsamente humildes.
Pois é, eu sou culpada desse mesmo pecado mas isso não faz de mim melhor que
ninguém, faz-me humana. Eu sei que sou um bocado egocêntrica e escrevo mais
para a paz da minha alma, mas o meu maior desejo é partilhar um pouco de mim e
relacionar-me com quem procura as minhas palavras – eu sei que por vezes me faz
falta alguém que tenha passado pelo mesmo que eu, para não me sentir tão só na
minha dor. O que não desculpa ou justifica o comportamento da senhora
mencionada, infelizmente tacto é uma coisa que não "não lhe assiste",
passando a expressão. Mesmo assim não tenho o direito de julgar uma pessoa
unicamente pela imagem que ela passa na televisão ou pelo que as pessoas dizem
dela, se não damos uma oportunidade nunca vamos conhecer ninguém intimamente.
Todos temos defeitos e todos nós já nos arrependemos de algo que dissemos num
momento nada fiel ao nosso carácter.
Por isso não interpretem mal as minhas palavras ou a maneira como ajo
naturalmente, não tenho um pingo de falsidade ou presunção, não caminho nas
nuvens rodeada de ornamentos de ouro, como muitos me julgam. Não, eu dou graças
por tudo o que tenho e sei que nada é garantido, não tenho pouco ou demasiado
mas o que tenho trabalhei e trabalho por isso. Foi esse o legado do que o meu
avô me deixou - muito amor e compaixão, e as ferramentas necessárias para ser
uma mulher independente e orgulhosa de si mesma. As minhas palavras por vezes
não são as mais corretas ou sequer as mais educadas mas a malicia e a inveja
são por vezes intoleráveis à minha índole, não fui educada a sentir tais afeções.
A felicidade é mais fácil de trabalhar que a inveja.
Pensem bem antes de julgar alguém, quem nunca pecou que atire a primeira
pedra.
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